sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Psicoterapia: escritor e papel

Em um artigo anterior, eu disse que havia muitos modelos de psicoterapia. Eles se aproximam ou se afastam uns dos outros de acordo com suas diversas características. Quando são mais consolidados, eles podem ser chamados de modelos, escolas ou abordagens e entre as mais conhecidas estão a Psicanalítica, a Comportamental, a Humanista-Existencial e a Social. É bem verdade que cada uma dessas citadas abriga uma variedade de submodelos com denominações diferentes. O psicólogo em sua formação universitária e profissional é exposto normalmente a muitas escolas e abordagens diferentes de psicologia. Entretanto, ele acaba privilegiando uma dessas escolas para exercer o seu trabalho como profissional, já que seria contraditório e antagônico abarcar vários. Melhor dizendo, muitas vezes, estes profissionais podem conhecer vários modelos, mas privilegiam ou se concentram em um pelo motivo já exposto.
           Neste artigo falo um pouco e de forma bem simples e figurativa da abordagem que adotei para a minha prática profissional: a Psicoterapia Centrada na Pessoa dentro da abordagem Humanista. Ela começa na década de 30, do século passado, a partir dos trabalhos do psicólogo norte americano Carl Rogers e enfatiza na teoria e no processo terapêutico as experiências vividas, o potencial natural de crescimento de cada um, o auto-direcionamento e o livre-arbítrio.
           Como esses conceitos soltos dessa forma são pouco compreensíveis, usarei uma metáfora comparando-os a um escritor e o papel no qual escreve. O escritor é o cliente e o psicoterapeuta é o papel. O escritor escolhe escrever no papel o que ele quiser, dando forma, expressão e conteúdo. O papel aceita tudo o que o escritor escreve, dando-lhe a liberdade de escrever o que quiser e do jeito que quiser. Assim, o escritor e o papel formam um conjunto. Um precisa do outro: o escritor precisa do papel para expressar a sua mensagem de forma compreensível e o papel precisa da escrita do escritor para conter uma mensagem, prestando um serviço que auxile na expressão das mensagens. Então, depois que o escritor escreve, ele lê, re-lê e re-escreve, geralmente várias vezes, concertando, modificando, acrescentando, etc., até ficar satisfeito com o sentido e significado de sua mensagem.
            A partir disso, a pratica de Psicoterapia Centrada na Pessoa é caracterizada por uma escuta do cliente de forma respeitosa, livre de criticas e de forma empática. Empatia significa procurar compreender o sentimento da outra pessoa, levando em conta as circunstâncias da vida dela. Diferentemente de outras escolas, a psicoterapia centrada na pessoa não visa julgar, interrogar, tranquilizar, explorar ou interpretar o cliente ou seus problemas, mas sim compreender os sentimentos, problemas e dificuldades do ponto de vista do próprio cliente. Dessa forma, o trabalho do psicoterapeuta ajuda o cliente a aumentar a compreensão de sua situação, abrindo possibilidades de alivio de sofrimento e encontro de soluções. Em resumo, podemos dizer que essa abordagem promove a autonomia, a tomada de consciência e a ressimbolização da experiência pelo cliente. Sendo assim, no final, é o cliente que faz a sua própria psicoterapia com a facilitação do psicoterapeuta, que oferece um ambiente mais seguro para tanto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Abordagem Centrada na Pessoa

           A Abordagem Centrada na Pessoa, abreviada por ACP, é uma corrente de pensamento psicológico desenvolvida a partir dos trabalhos do psicólogo americano Carl R. Rogers. Essa abordagem abriga um modelo de psicoterapia, conhecida com Humanista ou Centrada na Pessoa, em que o papel do psicoterapeuta é ajudar seu cliente a desenvolver por si e para si mesmo critérios e valores e, dessa forma, ele mesmo desenvolverá significados e um sentido para sua vida. Essa abordagem entende que somente há mudança de personalidade quando o cliente encontra novos paradigmas a partir de si próprio. Novos comportamentos mais coerentes com o desenvolvimento serão, então, uma consequência natural.
          Conforme esses preceitos, a função da psicoterapia é propiciar ao cliente o melhor ambiente para que ele atualize tanto suas percepções conscientes como as inconscientes e as simbolize de forma a aumentar seu grau de contato com a própria realidade e, desse modo, promover sua capacidade de tomar decisões em liberdade e se responsabilizar por elas. Sendo assim, a finalidade da psicoterapia é proporcionar ao indivíduo esse ambiente favorável à exploração de si próprio e ao autodesenvolvimento. Para tanto, o psicoterapeuta procura estar em estado de congruência, estabelecer empatia com o cliente e cultivar um posicionamento de consideração positiva incondicional para com ele. Isso significa aceitar o cliente incondicionalmente, ou seja, sem críticas e julgamento de valor, ser verdadeiro consigo mesmo e tentar entender o modo com que seu cliente percebe seu mundo e o compreende. Desse modo, as intervenções do psicoterapeuta seriam tipicamente nos formatos: de buscar compreender e aceitar os sentimentos do cliente, de evitar expor seu ponto de vista e oferecer conselhos, de disponibilizar seu mundo interior para entrar em contato com a “realidade” do cliente e deixar fluir reações intuitivas, mas sem perder a noção de si próprio e de tudo o mais que valorize a humanidade do cliente. Para proporcionar essa ambientação, o psicoterapeuta deve desenvolver atributos especiais, como estar mais interessado em ouvir e aceitar o ponto de vista do outro do que em expor e defender o seu, ser capaz de acatar sentimentos diversos, inclusive de hostilidade, sem reagir negativamente e agressivamente, ter a flexibilidade de se comportar da melhor maneira para propiciar ao cliente um relacionamento de aceitação compreensiva. Essa ambientação propicia um tipo de relação interpessoal entre psicoterapeuta e cliente caracterizado pela confiança crescente no cliente de que ele será sempre aceito apesar de qualquer coisa que deponha contra ele, isso devido a busca constante de compreensão e aceitação de seus atos e de sua pessoa. A partir da condição de ser aceito incondicionalmente, o cliente poderá se sentir confiante o bastante para se revelar para o psicoterapeuta e, consequentemente, para si mesmo e poderá ter coragem para descobrir os meios e caminhos que dão sentido e valor a sua vida.
           Em resumo, podemos dizer que a psicoterapia da ACP privilegia a capacidade natural de cada homem de se autodesenvolver através de descobertas por si próprio dos meios e caminhos para isso. A função da psicoterapia é facilitar esse processo, oferecendo um ambiente propício para tal. Esse ambiente funciona com agente facilitador e incentivador do autodesenvolvimento natural. A percepção do cliente é de que ele é aceito e compreendido e está mais livre para se mostrar, descobrir e encontrar sentido para suas experiências de vida.